quinta-feira, 2 de julho de 2009

Diminutivos

Já alguma vez se aperceberam que o uso de diminutivos pode mudar bastante o sentido das palavras?
Apesar de ter noção que a grande maioria das pessoas se preocupa com assuntos essenciais, como saber se o protagonista da novela das 21h vai trair a mulher, ou quem vai ser o próximo presidente do Benfica (assuntos aos quais atribuo o mesmo grau de importância), eu por outro lado não tenho muito com o que me preocupar, o que origina horas e horas de dissertações mentais sobre assuntos tão pertinentes quanto este.
Em termos gramaticais, um diminutivo é um grau de um substantivo e serve funções estilísticas bem definidas, formando-se acrescentando um sufixo que pode indicar afectividade ou pequenez, mantendo a categoria sintáctica da palavra base. Evidentemente que uma regra não seria regra sem as suas excepções, o que nos leva ao ponto fulcral deste texto, palavras em que o uso do diminutivo altera o seu significado.
Vejamos a palavra "coitado", usada normalmente, expressa um sentimento de pena por determinada pessoa, por alguma característica própria ou por um qualquer acontecimento negativo a que essa pessoa tenha sido sujeita, mas por norma é um sentimento verdadeiro. Já se pensarmos no seu diminutivo "coitadinho", chegamos à conclusão, e eu sempre ouvi dizer, "Coitadinho é corno!". Mas admito que este exemplo não é muito óbvio pois temos de considerar "corno" também como sendo uma característica pessoal ou um acontecimento negativo.
Temos também a palavra "anjo", que se for usada para descrever alguém, é um adjectivo positivo, "És um anjo de pessoa!". Por outro lado, se usarmos o diminutivo da mesma palavra o caso muda completamente de figura e torna-se depreciativo: "És um anjinho!", aludindo claramente ao lado mais ingénuo da pessoa (isto é puramente senso comum e não experiência própria obviamente).
Outra palavra que tem um significado claramente oposto apenas acrescentando um "inho", é a palavra "cheiro". Senão vejamos: "Que cheiro é este?" ou "Que cheirinho é este?". Se no segundo caso estamos a falar de algo agradável, no primeiro caso o mais provável é estarmos com os receptores olfactivos a ser violentamente atacados!
Outro caso muito comum que normalmente nem nos apercebemos, é a "casa" que se transforma apenas numa divisão: "casinha" (ok é um diminutivo mas não exageremos). Quando alguém diz "Vou para casa" está obviamente a despedir-se, já quando alguém diz "Vou à casinha, volto já", está apenas a partilhar informação inútil que eu dispenso.
Temos ainda dois exemplos, em que são gritantes as diferenças de significado, mas ao mesmo tempo elucidativos da minha enorme capacidade (ou falta dela) de escrever sobre assuntos importantes. Primeiro, quando retiramos o necessário, seja do que for, e nos resta alguma coisa, podemos dizer "A sobra está no lixo!" sem qualquer consequência, mas não digam "A sobrinha está no lixo!", principalmente se tiverem irmãos ou irmãs com filhas! Segundo, e por último, a palavra "leve", que tanto pode ser usada como uma conjugação do verbo levar, ou como um adjectivo referindo-se ao peso de algo ou mesmo à sua importância. Enquanto o uso do diminutivo, "levezinho", refere-se claramente à alcunha do avançado do Sporting de nome Liedson, que nunca mais se reforma ou pára de marcar golos! Mas tudo bem, a importância desse facto no quadro geral do campeonato nacional tem sido insignificante pelo que o adjectivo aceita-se perfeitamente!