terça-feira, 3 de julho de 2007

Segredo

Jack entrou no bar às 23h, com bastante ansiedade e nervosismo mas ao mesmo tempo confiante. Convenceu-se que iria resolver todos os seus problemas naquela noite, a partir daquele momento tudo iria ser diferente, a vida dele iria mudar.
O bar era bastante movimentado, lembrou-se das palavras do seu contacto "Tem de ser num local público com muita gente!", observou o ambiente, um grupo de estrangeiros ruidosos e já nitidamente embriagados a um canto, vários casais e grupos pequenos espalhados pelas mesas e um grupo de mulheres no que parecia ser uma despedida de solteiro. Apesar de não gostar deste tipo de ambientes, tentou abstrair-se desse facto pois tinha outras razões para estar ali, algo de muito importante! Dirigiu-se ao balcão onde estavam algumas pessoas em animados diálogos e outras sozinhas que apenas olhavam em seu redor, à procura, ou talvez à espera de algo.
-"Boa noite. O que vai ser?", ouviu do outro lado do balcão.
-"Whisky, duplo!"

Enquanto bebia o whisky para acalmar os nervos viu que uma mulher se aproximava, caminhava confiante e sensual, era uma mulher extremamente bonita e sabia-o, não hesitava em mostrá-lo, mas Jack afastou a imagem da mente e voltou ao seu pensamento frio e metódico acerca do que se iria passar naquela noite. Mesmo assim foi abordado:
-"Estava ali a reparar que está sozinho, posso oferecer-lhe uma bebida?", trazia um whisky na mão.
-"Já estou servido, desaparece!", respondeu fria e secamente.
-"Estúpido!"

Passados alguns momentos, quando já começava a recear o pior, vê um homem aproximar-se, vinha nervoso, olhava para todos os lados, apesar do ambiente quente que se fazia sentir trazia um casaco apertado até ao pescoço, Jack percebeu logo que seria o seu contacto:
-"Jack?"
-"Sim"
-"Isto é seu?", apontando para o copo de whisky no balcão.
-"Uma gaja qualquer que me quis engatar, pode beber.", bebeu-o de golada.
-"Você tem a certeza que quer continuar com isto? Sabe no que se está a meter?"
-"Não tenho alternativa, tentaram matar-me!"
-"Você anda a fazer demasiadas perguntas, perguntas indiscretas a pessoas indiscretas, tem de ter mais cuidado!"
-"Estou aqui não estou?"
-"Com essa arrogância não vai longe! Você não está na sua terriola a escrever sobre a velhota que foi burlada!"
-"Calma, eu estou a ter muito cuidado, tenho tomado precauções desde o que se passou, quero chegar ao fundo desta questão!"
-"O que lhe vou dar contém todas as informações de que precisa, contactos, cópias de documentos autenticados, cópias de facturas... tudo! Se você realmente souber o que está a fazer isto vai trazer toda a verdade a público. E aí vai ser um salve-se quem puder, isto implica muita gente muito poderosa, mais do que imagina, cabeças vão rolar, reze para que não seja a sua!!", nesta altura o homem abre o casaco e tira um envelope grande que entrega a Jack, este reparou que o homem tremia, corriam pingas de suor pela cara e estava a ficar com uma cor estranha.
-"Sente-se bem?"
-"Sinto... estou nervoso... isto passa...", mas então o homem já apertava o peito com as duas mãos e tossia, contorcia-se com dores e caiu ao chão. Nesta altura já toda a gente olhava na direcção dos dois homens, o barman saltou o balcão e começou a tentar socorrer o homem estendido no chão, perguntou a Jack se o conhecia, se ele tinha problemas de saúde, este não reagia, estava petrificado a olhar para o homem, pensou em todas as ameaças que recebeu, a tentativa falhada de o assassinarem, o copo de whisky... a gaja... "Puta!".
Agarrou no envelope e saiu disparado do bar, ignorou os berros do barman e fugiu. Dobrou a primeira esquina e passados uns metros ouviu:
-"Hey Jack! Espere!"

Hesitou e parou, pensou que ninguém o poderia conhecer ali, a única pessoa que o conhecia estava morto no chão de um bar, então pensou que não deveria ter hesitado, não deveria ter parado, nessa altura já estava no chão, estava de tal maneira absorvido nos seus pensamentos que nem ouviu o som do disparo, apenas sentiu o impacto da bala nas suas costas, sentiu o calor do sangue a espalhar-se e logo depois começou o frio. Pensou em tudo que tinha passado para chegar até ali, tudo em vão, todo aquele esforço, nunca tinha pensado em ter alguém que pudesse continuar o seu trabalho se ele morresse, queria ter a glória só para si, queria ser o herói que tinha exposto aquela organização poderosa e corrupta. Mas agora o segredo iria morrer com ele... "Os filhos da puta safaram-se!"

3 comentários:

Xo disse...

Como costuma dizer uma certa pessoa... "as gajas são um bicho que... hmm" pronto, são gajas!
Altamente a historia... mas quero continuação!!! ;)

Elenáro disse...

Nice! :P Adorei a frase final... algo muito vulgarizado hoje em dia... va-se la saber porque!

Metz disse...

Tas em grande miudo....
Gostei ;) mas devias ter publicado tb o outro...

Abraço